
Por essa ninguém esperava: o bispo de Catanduva-SP, na região de Rio Preto, impôs “contribuição compulsória” de R$ 300 mensais a cada um dos 47 padres da Diocese para ajudar a Curia a pagar indenização já determinada pela Justiça de R$ 210 mil a uma jovem de 19 anos, abusada sexualmente por um dos padres quando tinha apenas 11 anos, durante uma confissão, dentro da igreja. Padre Osvaldo Donizete da Silva, popular padre Barrinha, foi mantido pelo bispo Dom Valdir Mamede à frente da Paróquia da Imaculada Conceição em Novais, outra cidade da região.

Em dois comunicados por mensagens de WhatsApp no grupo do clero diocesano dia 8, o bispo impõe a contribuição aos padres alegando que é para “poder pagar o resultado que for fixado em segundo grau [pela Justiça] para indenização, caso não haja recurso ao Superior Tribunal de Justiça”, em Brasília-DF. Devem ser isentos apenas aposentados e padres portadores de doenças graves. Um dos 47 atingidos pela medida, que pediu anonimato, disse que “os padres que se recusaram a contribuir foram ameaçados de serem mudados de suas paróquias”. Hoje o piso salarial dos padres no País é de R$ 2,7 mil mensais, equivalentes a dois salários mínimos.
A sentença indenizatória foi dada pelo juiz Vinicius Nunes Abbud, da Vara Única de Urupês, também na região. Ele condenou padre Barrinha e a Diocese de Catanduva a indenizarem a vítima em R$ 210 mil, valor que bispo Mamede estima que possa chegar aos R$ 500 mil com correção e custas processuais. A decisão saiu no final de fevereiro, por danos morais. Porém, Barrinha já ficou preso em Presidente Prudente após ser condenado a 9 anos e 4 meses por estupro de vulnerável em dezembro de 2013; no início de 2014, ele recorreu ao Tribunal de Justiça (TJ) de SP e foi libertado ao converter a sentença por estupro em importunação sexual, que é uma contravenção penal.
A vítima, cujo nome é preservado, relatou os fatos aos familiares, que foram à polícia. A menina tinha 11 anos quando foi se confessar na igreja de Novais, onde ocorreu o abuso sexual. Para a Justiça, Barrinha usou da condição de autoridade religiosa para praticar o estupro. Ele foi preso preventivamente no curso das investigações policiais, sendo recolhido inicialmente à cadeia de Novo Horizonte, a 50 quilômetros de Catanduva. Agora que a indenização virou uma realidade, o bispo quer a ajuda financeira dos padres para reforçar o chamado Fundo de Auxílio Presbiteral, criado justamente para fazer frente a situações como esta e que conta com repasses mensais de R$ 800 por paróquia.
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