CRÔNICA – “Bom dia caipira, seja bem-vindo!”

Por Hailton Medeiros

Início dos anos 90, bombava na TV brasileira o popular jornalístico Aqui Agora do SBT, uma das muitas sacadas de Silvio Santos para ‘roubar’ audiência da Globo. O foco estava no noticiário policial, no chamado ‘mundo cão’, e dava o maior Ibope. 
O segredo de tanto sucesso estava no profissionalismo. Só para ter ideia, o bauruense Amauri Soares, que já foi diretor da Globo Internacional em NY e segue na direção da Central Globo de Produção até hoje, foi um dos convocados para ajudar na criação do Aqui Agora. O mesmo aconteceu com Neusa Rocha, que dirigiu a Globo Bauru e atualmente comanda o Pequenas Empresas Grandes Negócios. E foi a convite dela que eu também fiz parte daquela “seleção brasileira de repórteres”, como dizia Gil Gomes, ícone da crônica policial no rádio e na TV do Brasil, falecido nesta 3ª feira (16).
Me apresentei no dia combinado e sob as bênçãos do então diretor de programação do SBT, Luciano Callegari, embarquei na ‘viatura’ do Aqui Agora para a minha temporada no programa. Ainda na redação, fui calorosamente recepcionado por Gerson de Souza, hoje na Record e com quem eu havia trabalhado na Globo Bauru, e por Wagner Montes, com quem faria boas transmissões para a Rádio Clube de Marília, onde eu também atuava naquela época.
A caminho da reportagem, outros repórteres acionaram o rádio da ‘viatura’ para saudar o colega que vinha do Interior. Foi o caso de Magdalena Bonfiglioli, Jacinto Figueira Jr (‘O Homem do Sapato Branco’) e, de repente, Gil Gomes. “Bom dia caipira, seja bem-vindo!”, ecoou ‘viatura’ adentro, com um jeitão carinhoso e característico que era só dele. Respondi no susto, como se diz popularmente, entre surpreso e envaidecido. Rolou um breve papo e isso foi suficiente para inflar a minha autoestima.
Apesar da experiência acumulada em outros canais de comunicação, inclusive na TV Globo de SP, e de conhecer e me relacionar com grandes profissionais do jornalismo, como Caco Barcelos e o grande José Hamilton Ribeiro, a voz de Gil Gomes no rádio da ‘viatura’ do Aqui Agora nunca mais saiu de meus ouvidos. Foi triste saber do falecimento dele nesta 3ª feira de outubro. Não fomos amigos nem telefonamos um para o outro nesses 20 e tantos anos, mas a minha admiração pelo maior cronista policial que já vi e ouvi nunca deixou de existir. Eu ainda era menino quando o escutava no rádio e montava mentalmente as imagens dos casos que ele narrava. Eu era fã de Gil Gomes.