“FAMÍLIAS ESTÃO CORRENDO RISCO”, alerta coordenador de assentamento em fazenda de Ivan Cassaro

INCRA CONVENCE 9 DAS 18 FAMÍLIAS A SAÍREM; ‘JAGUNÇOS’ ASSUMEM CONTROLE DA PORTEIRA, DIZ MST

 

Infelizmente, o Incra chegou aqui com três caminhões e conseguiu convencer nove das 18 famílias a deixar o assentamento. O superintendente Edson (Fernandes) e alguns diretores fizeram nova assembleia com as famílias e prometeram a remoção delas para outra área, com o compromisso de reassenta-las em 90 dias”, narrou Márcio José dos Santos ao HORAH, um dos coordenadores do Assentamento Luiz Beltrame, de Gália, a 60 km de Bauru. As famílias que não aceitaram sair “estão correndo risco”, disse ele, que também é da coordenação nacional do Movimento Sem Terra (MST).

Márcio Santos, coordenador do assentamento em fazenda do prefeito de Jaú, fala em tráfico de influência política (FOTO: Reprodução/Facebook)
O deputado federal e filho do presidente da República, Eduardo Bolsonaro, em visita recente ao clube de tiro do prefeito Ivan Cassaro em Jaú (FOTO: Reprodução/redes sociais)

A desocupação promovida pelo Incra contraria liminar concedida pelo Tribunal Regional Federal (TRF) de SP, em Ação de Terceiros Interessados movida pelas famílias do assentamento. “O que aconteceu hoje é ilegal, no nosso entendimento, por causa dessa liminar que garante nossa permanência no imóvel até o julgamento final da ação, por estarmos às vésperas do Natal e por haver uma recomendação do STF para não se dar cumprimento a nenhuma remoção durante a pandemia”, avaliou Márcio. O que mais pesa, entretanto, é a desconfiança da existência de tráfico de influência nisso tudo.

“Nossa avaliação é que há uma interferência política direta para que o Incra remova as famílias para agradar os interesses do fazendeiro Ivan Cassaro”, comentou o coordenador do assentamento instalado pelo próprio Incra em antiga área da Fazenda Santa Fé, desapropriada do empresário e agora prefeito de Jaú em 2012, quando foi dada posse aos assentados. Inconformado, Ivan recorreu à Justiça Federal de Bauru em 2014. De lá para cá, segundo Márcio, a Advocacia Geral da União (AGU) “perdeu prazos” na ação, “julgada praticamente à revelia, chegando à decisão judicial de desocupação” da área. Porém, como o assentamento já tinha sido oficializado, as famílias também recorreram e o caso ainda não teve julgamento final.

O coordenador diz que Ivan “é amigo íntimo da família Bolsonaro (presidente da República) e tem um clube de tiro que é dos maiores do Brasil em Jaú, onde os filhos do presidente treinam com o prefeito, conversam, colocam o papo em dia”. Na opinião de Márcio Santos, isso pode ter influenciado na remoção das famílias nesta 3ª feira (14) chuvosa. “Estranho é que desde as 2 horas da tarde, um grupo de pessoas que nós não conhecemos, possivelmente jagunços, para usar o português claro, estão posicionadas na porteira principal do assentamento, com um trator grande atravessado na estrada e duas caminhonetes. É um tom muito intimidador e ameaçador. Entendemos que as nove famílias que não saíram estão em risco, porque há uma ameaça clara, uma situação de iminente conflito”, denunciou.

Famílias transformaram a terra em produtiva…
…vários produtos agrícolas passaram a ser cultivados em área que antes era considerada improdutiva…
…e até vaca de leite os assentados passaram a criar (FOTOS: Reprodução/Facebook)

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