Manifestação de conteúdo racista do prefeito Ivan Cassaro (PSD), 63 anos, inundou as redes sociais no último fim de semana, quando se comemorou o Dia da Consciência Negra, causando indignação, revolta e repúdio. HORAH ouviu advogadas que condenaram a postura de Ivan e passaram a exigir um pedido público de desculpas.
Dirigindo-se a um ex-integrante da Secretaria de Comunicação no início da gestão, o prefeito expõe a vaidade pessoal ao reclamar de fotos em ângulos que não o agradavam e faz uma analogia: “(…) você se apavora logo e a primeira (…) neguinha que passa você já quer montar; espera pra passar a morena, a loira bonita”. HORAH teve acesso ao áudio completo, com pouco mais de 8 minutos, quando Ivan gravou um dos primeiros vídeos sobre medidas na pandemia.
Apesar do impacto negativo e centenas de comentários nas redes sociais, a fala do prefeito não teve nenhuma explicação oficial. A Secretaria da Comunicação se limitou a divulgar nota exaltando a participação da prefeitura na celebração da Consciência Negra, sábado (20), em frente à sede da subseção da OAB. Mas a presidente da Comissão da Mulher Advogada, Michele Totina, não deixou passar: “Venho manifestar minha indignação sobre (…) a fala machista, racista e misógina atribuída ao gestor municipal. Deixo meu repudio enquanto mulher, advogada e representante da Comissão da Mulher Advogada da subseção da OAB de Jaú”.
Michele disse que não causa estranheza o que foi dito por Ivan, “haja vista essa gestão ser marcada por falas desconexas nesse sentido”, lembrando fato semelhante ocorrido com o ex-secretário da Cultura Tom Borges em relação às mulheres. “Causa estranheza, sim, outros órgãos de proteção à mulher, inclusive municipais, não se manifestarem contra o que está acontecendo”, disse a advogada, observando que “racismo é crime e merece ser apurado”.
A também advogada e consultora do HORAH, Daniela Rodrigueiro, vê mais gravidade ainda no fato de Ivan ser pessoa pública e, como tal, com “capacidade de decidir e influenciar a vida das pessoas”. Enquanto o julgamento criminal compete ao Judiciário, para ela “fica a reprovação moral, social e estrutural daqueles que brincam, zombam, hipersensualizam e hipersexualizam o corpo da mulher e, neste caso, o corpo da mulher negra”. Daniela também frisou que racismo e injúria racial, “em qualquer das suas expressões, são crimes imprescritíveis, segundo recente decisão do STF”.
Para a advogada, essa “é uma boa hora para [o prefeito] reconhecer o erro” e apresentar “um pedido de desculpa pública” à sociedade. Finalizando, Daniela ataca “a forma estúpida e bastante agressiva” usada pelo prefeito de Jaú para atacar a mulher negra, ressaltando que esse tipo de manifestação “incentiva e responde, sim, pelas violências física e sexuais praticadas contra a mulher, especialmente contra a mulher negra”.
HORAH – A verdade dos fatos
