
Apesar de tantas evidências, MP dá parecer contrário ao uso delas em ação eleitoral contra a reeleição de Ivan Cassaro; porém, outro promotor abriu inquérito para apurar os fatos, o que também estaria nas mãos da Polícia Federal
HORAH teve acesso às seis páginas do depoimento à polícia do pizzaiolo Glauber Cardoso, 42 anos, em que afirma ter levado “dois possíveis casos de corrupção” ao prefeito de Jaú, Ivan Cassaro (PSD), detalhes de como funcionava o pagamento de páginas de notícias, radialistas e outras pessoas para enaltecê-lo e atacar adversários durante a campanha à reeleição em 2024. Glauber, entretanto, diz que Ivan “não deu importância, mandando ficar quieto”.
Outro que o teria procurado com o mesmo comportamento, segundo consta do depoimento prestado ao delegado da 1.a DIG-DEIC Bauru, Marcelo Góes, teria sido o ex-vereador e então chefe de gabinete Chico Quevedo (União). Foi quando Glauber começou a sofrer “retaliações políticas” por deixar de apoiar Ivan após as eleições, com sucessivas fiscalizações em pizzaria de sua propriedade dele no Jd. Orlando Ometto, zona sul.
Chico teria avisado: “Cala a boca, fica quieto… pois o ‘homem’ vai chamar você para conversar”, referindo-se ao prefeito. Glauber diz que sofreu as fiscalizações e diante da situação decidiu fazer um podcast em 8 de abril, onde fez parte dessas revelações publicamente, tomadas em depoimento pelo delegado Góes no dia seguinte.
Glauber cobra um acerto trabalhista com o prefeito desde o início de 2021, por ter sido uma espécie de ajudante de ordens, fazer vídeos particulares para divulgação política e apontar problemas na cidade, como buracos nas ruas etc. “Tinha contato direto, sem intermediário, com o prefeito, a qualquer momento, inclusive à noite”, declarou ao delegado em documento que é público.

PAGAMENTOS – Além das retaliações, o que teria levado à revolta de Glauber foram dois pagamentos de R$ 1.800,00 cada um que ele recebeu da empresa terceirizada de manutenção de prédios públicos RAJ Brasil, de Nhandeara-SP, para a qual nunca prestou serviços. “Achava que meu pagamento era do bolso do prefeito”, disse. Ele alega que recebia R$ 3.700,00 mensais, sendo R$ 3.000,00 do empresário de locação de vans Djair Palácio e R$ 700,00 do então secretário da Assistência Social Marco Cipolla (acusado de operar o esquema de cobrança de propina da RAJ para pagar bajuladores do prefeito).
Glauber confirmou também que o falecido Luiz Garcia, da página Acontece Cidade, recebia R$ 5.500,00 mensais da construtora de casas populares Ecovita. Sobre os escândalos dos contratos médicos da Secretaria da Saúde denunciados pelo vereador Mateus Turini, Glauber relatou que a própria Ana Paula Rodrigues (ex-secretária) disse a ele ter informado ao prefeito que havia um desvio “todos os meses” de R$ 200.000,00 e que a responsável seria a secretária-adjunta (até hoje) Mariana dos Santos, “que dizem ser sobrinha do Ivan”.


MP ARQUIVA – Apesar da riqueza de detalhes do depoimento e de tudo ter sido juntado a uma AIJE-Ação de Investigação Judicial Eleitoral contra Ivan, que está sob sigilo de Justiça, o parecer do MP-Ministério Público foi pelo arquivamento (o que inclui atas notariais e áudios comprometedores, que indicam relação promíscua da administração com empresas prestadoras de serviços públicos e bajuladores da mídia). HORAH teve acesso ao parecer do MP, que reconhece serem fatos novos, mas diversos dos fatos investigados na AIJE, “razão pela qual devem ser desentranhados (descartados)”. O documento de 16 páginas foi emitido pelo promotor Daniel Passanezi Pegoraro.
MP REABRE – Ante tantas evidências, semana passada o promotor Rogério Rocco Magalhães comunicou oficialmente à Câmara Municipal que abriu inquérito civil para apurar os episódios denunciados por Glauber, o conteúdo das atas notariais e os mais de 400 áudios que foram espalhados na internet. O caso também estaria sob investigação na Polícia Federal. Será que agora vai?


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