Além da participação do prefeito Jerri no esquema, acusado inclusive de receber propina, novo relatório do MP cita envolvimento do vice Pegorin e ‘cabide de emprego’ determinado pela 1.a dama Fátima, que será investigada à parte
Novo relatório do Ministério Público de Bariri e Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Bauru, com 152 páginas, amplia o leque de envolvidos com fraude a licitação da limpeza pública em Itaju, cidade vizinha de Bariri, região de Jaú, com revelação de detalhes sórdidos. Assinado pelo Promotor de Justiça Nelson Febraio Jr, o relatório expõe documentos, troca de mensagens, áudios e informações encontrados no notebook do dono da Latina Ambiental, empresa de Limeira que participou do conluio com o prefeito e demais agentes públicos de Itaju em 2023.
“No caso de Itaju é difícil não enxergar a fraude com tantas provas judicialmente autorizadas”, conclui Febraio Jr. A fraude à licitação da limpeza pública na cidade teria começado em 2/2/23, quando Paulo Ricardo Barboza, o dono da Latina, foi recebido no gabinete do prefeito Jerri de Souza Neiva após já terem trocado telefonemas; daí em diante o empresário assumiu a montagem da fraude que contou com edital e termo de referência com cláusulas restritivas para impedir a participação de outros interessados. “Eu que fiz desde o começo, tudo (…). Por isso que eu ganhei (risos no final)” – confessou Paulo Ricardo ao MP.
O promotor relatou no documento que “a ajuda de Jerri não foi em vão” e que “as contrapartidas começaram com a entrega de valores em envelopes e em dinheiro vivo para tentar dificultar a identificação”. Os pagamentos ao prefeito de Itaju por ter facilitado o contrato com a Latina teriam sido confirmados em “agenda de controle especial de propina” apreendida no escritório de Paulo em Limeira, em 8/8/23, e em áudios e troca de mensagens de funcionários da empresa com o prefeito, marcando local para entrega de envelopes com dinheiro.
Por fim, Febraio Jr afirma: “Sobram provas e elementos da fraude na licitação, regadas por crimes e improbidades. Além disso, posteriormente ocorreram propinas”. O promotor também diz ter havido “ilegalidade atrás de ilegalidade, crime atrás de crime” no processo de contratação da Latina, que envolve outros agentes públicos nomeados por Jerri Neiva e pagamentos até mesmo por serviços não prestados.
CABIDE DE EMPREGO – Pela primeira vez o vice-prefeito Wellington Pegorin e a primeira-dama Fátima Camargo são citados pelo MP/Gaeco. Em vários áudios trocados com o dono da Latina, o funcionário de confiança Jr Pittia relata conversa com Pegorin para combinar pagamentos imediatos de notas fiscais e indicação de aliados políticos para serem contratados pela empresa. Nesse caso, Fátima teria determinado o ‘cabide de empregos’ pago com dinheiro público.
“O último contratado de Itaju, indicação da primeira-dama, fumando maconha agora durante o horário do trabalho”, contou Pittia em um dos áudios mandados a Paulo Ricardo. Em outro, falou que Fátima “deu ataque de ‘pelanca'” por causa de funcionários contratados sem o aval dela, ameaçando inclusive romper o contrato com a Latina. “Eu falei: senhora, não precisa fazer nada disso. Eu risco os dois nomes e chamo mais pessoas para entrevista. E antes de contratar nós vamos passar pra senhora. A senhora vai falar sim ou não” – relatou ao patrão.
POLÍTICA – Os áudios que constam do relatório vão além. Pittia confirmou que em Itaju “os funcionários da empresa deveriam passar necessariamente pelo crivo da primeira-dama, Fátima, e do vice, Pegorin”, e que só deviam ser contratados “aqueles que eles indicassem”. O funcionário da Latina falou também que Fátima era quem mandava na Prefeitura e que exigia contratações “para fazer política, mesmo que tivesse que dispensar depois”. Quanto aos fatos envolvendo Fátima, que foi várias vezes prefeita de Itaju, o promotor Febraio Jr escreveu que “o crime por ela cometido será apurado em separado” – ou seja, em outra investigação.
HORAH – A verdade dos fatos