Suspeita grave de corrupção na Prefeitura: “Já dei 36, mais 8, mais 1.500 aí pro cêis”, desabafa empresário

Mais um escândalo abala o governo Ivan Cassaro, envolvendo também o secretário da Assistência Social e homem de confiança dele, Marco Cipolla (FOTOS: Reprodução HoraH)

Suposto esquema de cobrança de propina para pagamento de etapas já cumpridas da reforma do Campo Municipal de Jaú seria operado pelo secretário da Assistência Social, Marco Cipolla; secretário Neto, do Planejamento Urbanístico, e o próprio prefeito Ivan Cassaro também são citados no novo escândalo envolvendo a administração municipal

Novo escândalo com indícios graves de corrupção envolvendo a administração do prefeito Ivan Cassaro (PSD) é denunciado em Jaú, dessa vez pelo empresário Jocimar Joaquim Pereira, de Nova Odessa, SP, proprietário da Amplitude Infra-Estrutura e Saneamento Ltda. A empresa ganhou licitação no valor aproximado de R$ 2,3 milhões para fazer a reforma do Campo Municipal de Jaú, cuja obra deveria ter sido entregue no aniversário da cidade, em 15/8.

Jocimar prestou declarações em áudio e vídeo ao Ministério Público (MP) e, depois, por orientação do próprio promotor de Justiça, lavrou Ata Notarial junto ao 2.o Tabelião de Notas e de Protesto de Letras e Títulos de Jaú, perante a escrevente Paola Colodiano, à qual entregou o próprio celular para “verificação e captura de tela de conteúdo de mensagens e áudios recebidos pelo aplicativo WhatsApp”. As revelações são bombásticas, mas ainda menores do que foi contado e documentado no MP.

Ata Notarial descreve diálogos por WhatsApp entre Cipolla e o empresário Jocimar, que são estarrecedores (FOTO: Reprodução doc. oficial)

Em 24 arquivos de áudios gravados entre 10/5 e 22/7, estão diálogos entre Jocimar e o secretário da Assistência Social Marco Cipolla, homem de extrema confiança do prefeito Ivan Cassaro e que o acompanha há muitos anos. Pelo conteúdo dos mesmos, tudo leva a crer que o secretário negociou pagamentos de etapas já executadas da reforma do campo com propina para sustentar uma rede de apoio político à administração Cassaro. Entre os beneficiados estão donos de páginas nas redes sociais acostumados a bajular o governo, comunicadores de rádios com o mesmo perfil, um servidor comissionado e “o João Otávio”, que, pelas indicações, seria o publicitário responsável pelo marketing do governo, João Otávio Mott.

HORAH teve acesso à Ata e a divulgou com exclusividade nesta 4.a feira 11 em programa ao vivo pelas mídias sociais e Perola FM com enorme repercussão e indignação manifestada por mensagens dos ouvintes e internautas, porém, até a conclusão desta reportagem, não houve qualquer manifestação oficial da Prefeitura. A reportagem também apurou que a gravidade dos fatos já teria levado a duas ações judiciais: uma criminal e a outra eleitoral, sendo que ambas possuem teor explosivo contra a administração Cassaro e a própria candidatura dele à reeleição.

Em um dos áudios, depois de reclamar muito da falta de pagamentos que somados ultrapassariam a casa dos R$ 650 mil, o empresário chega a ameaçar: “…ou o prefeito dá um jeito nisso aí ou não sei o que que vai acontecer não, viu?”. Foi no dia 21/6. Em diversos outros áudios anteriores, Cipolla tenta contornar a situação dizendo que levaria o caso ao Neto (que tudo indica ser Norberto Leonelli Neto, secretário do Planejamento Urbanístico e homem forte do governo Cassaro), e que este buscaria autorização para a liberação dos pagamentos junto ao prefeito. Ou seja, uma sugestão de que Cassaro sabia do esquema.

Dia 16/5, Jocimar fala a Cipolla que terminaria a reforma do campo “agora para o dia 15 de agosto, para o aniversário da cidade”, que gastaria mais para fazer isso e que tentaria ainda “trazer uns ‘jogador’ pra fazer uma festa aí pra ele (prefeito), fazer um jogo das estrelas”, conforme “tava combinando com o João lá, o João Otávio”. Alguns dias depois, em 5/6, o empresário não tinha recebido os atrasados e dá a entender que não estava mais suportando pagar PIX para os apaniguados da administração indicados por Cipolla. “Eu fiz este 1.500 aí cara, agora o outro eu não consigo”, diz, acrescentando: “Com esse dinheiro aí, já dei 36, mais 8, mais 1.500 aí pro ‘cêis’, cara, e as coisas tão difícil, eu não consigo tirar da obra isso aí, entendeu?”

Prefeito Ivan Cassaro ainda não se manifestou sobre as acusações (FOTO: Reprodução HoraH)

A pressão por um suposto desvio de dinheiro da obra para pagamento da suposta rede de apoio à administração chega a tal ponto que Jocimar pede aditivos de valores para a reforma do campo, para suportar os pagamentos que vinha fazendo, muitos deles documentados com as transferências bancárias via PIX. “Eu vou parar esse negócio do campo aí, cara, não tô aguentando mais não, cara”, reclama o empresário no 21.o áudio, dia 21/6, já mencionando notas de “300 mil que tá com ele aí para liberar, desde aquele dia que a gente ‘fizemo’ a reunião, que ele falou que ia liberar no outro dia; depois tem mais 370 que eu já fiz ‘aditivo’ cara”.

Após a denúncia apresentada por HORAH com base na Ata Notarial (documento que detém fé pública), nos documentos anexados e nas declarações prestadas diretamente ao MP Jaú, o vereador Luizinho Andretto mandou mensagem por aplicativo para a reportagem informando que ingressará com pedido de abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara, com a finalidade de investigar os fatos. HORAH continua apurando as acusações também e fará novas postagens com outras revelações.

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