Gaeco: situação e oposição se manifestam; advogados tentam acessar processo, que teria 11 mil páginas

Megaoperação TerraRoxa do Gaeco em Jaú mirou, entre outros endereços, a Prefeitura e a Câmara (FOTO: Reprodução HoraH)

Prefeito Ivan Cassaro comemora, mas não diz nada sobre o foco de três megaoperações no governo dele: de fraude a licitação, de aprovação de loteamentos irregulares de aliados políticos até com falsificação de assinaturas e, agora, outra vez por causa de empreendimentos imobiliários; pré-candidato da oposição toca o dedo nessas feridas

O sábado 6 é de trabalho intenso para os advogados dos alvos da operação Terra Roxa, desencadeada em Jaú pelo Ministério Público (MP) e Gaeco na 6.a feira 5. Valendo-se do plantão judicial, os profissionais estão peticionando em Juízo na tentativa de finalmente ter acesso aos autos e conhecer o conteúdo das supostas 11 mil páginas do processo, conforme apurado por HORAH após contato com diversas fontes.

Primeiro com sigilo absoluto e agora apenas em situação sigilosa, ao que se sabe os autos contém horas e horas de gravações telefônicas autorizadas judicialmente em 2023, antes da votação da atualização da Planta Genérica de Valores (PGV) pela Câmara Municipal, aprovada pela base governista do prefeito Ivan Cassaro (PSD), sancionada pelo chefe do Executivo e já convertida em lei. Isso teria servido de base para a ação do MP e Gaeco.

O rescaldo da megaoperação foram 32 endereços visitados (26 originalmente autorizados e mais seis acrescentados na tentativa de dar cumprimento às buscas e apreensões determinadas pela Justiça), uma detenção já revertida pelo encontro em residência de uma arma não registrada e cerca de R$ 40 mil em espécie localizados na casa de um dos envolvidos na investigação, sem a devida comprovação da origem. Ninguém foi preso, até porque todos os pedidos feitos na inicial foram negados pela juíza.

Prefeito Ivan, cujos aliados também estão no foco das apurações, entre os quais nomeados por ele na administração: o que é que há? (FOTO: Reprodução HoraH)
Malas com documentos e computadores apreendidos na Prefeitura e Câmara Municipal (FOTO: Reprodução HoraH)

“Sempre falei quando eu cheguei à Prefeitura, se todo mundo estava preparado pra enfrentar uma quadrilha de criminoso de colarinho branco”, disse o prefeito Ivan em entrevista disponível nas mídias sociais. “Algumas pessoas achavam que eu era louco (risos), agora tá acontecendo”, acrescentou, dizendo ainda que “há décadas a cidade vinha com problemas, e graças à polícia de Bauru e à polícia de Jaú está se resolvendo e cumprindo o que deve ser cumprido”.

Porém, Ivan não disse uma só palavra sobre o envolvimento de três vereadores aliados dele (Tito Coló, Fernando Toledo e Rodrigo de Paula, que licenciou-se da Câmara após a votação da PGV e foi nomeado pelo prefeito como secretário da Defesa Civil), além de dois servidores municipais (Luiz Carlos Marchiori e Francisco Martimiano, este último que já estava fora da Prefeitura e foi reintegrado por insistência e nomeação do atual chefe do Executivo).

Importante destacar que esta foi a terceira grande operação policial que atingiu a administração Ivan Cassaro: a primeira com participação da Polícia Federal (PF), por fraude em licitação; a segunda da Polícia Civil local, para busca e apreensão na Secretaria do Planejamento Urbanístico, cujo foco eram loteamentos irregulares e/ou clandestinos e falsificação de documentos que teriam permitido a aprovação de empreendimentos de aliados do prefeito; e, agora, a terceira, do MP e Gaeco, outra vez com foco em loteamentos e na PGV. A pergunta ainda não respondida: o que há dentro do governo Ivan que seria tão grave sobre esses empreendimentos, envolvendo agentes públicos escolhidos e nomeados por ele e vereadores aliados?

O prefeito parece ter festejado a megaoperação de ontem para criar uma cortina de fumaça sobre todas essas evidências. Pré-candidato a prefeito em oposição a Ivan, o jornalista Paulo Soares postou vídeo nas redes sociais tocando o dedo nessas feridas. “É Polícia Civil que vai até a Prefeitura para apreender computadores por conta de suspeita de irregularidades e de assinaturas falsificadas em documentos que liberam loteamentos”, disse. “É Polícia Federal que vai até a Prefeitura para apreender computadores por suspeita de fraude em licitação. E agora, uma megaoperação (…) atingindo agentes públicos da situação, da oposição e também empresários”.

Por fim, Paulo conclui que “passou da hora de passar Jaú a limpo (…), doa a quem doer, e que todas as responsabilidades sejam apuradas e as penalidades aplicadas”. O pré-candidato também se mostra preocupado com um detalhe: “Três vereadores afastados preventivamente das funções, justamente alguns dos mais atuantes, que vinham apontando as denúncias mais graves”. Ele se refere a José Carlos Borgo, Luiz Henrique Chupeta e Mateus Turini, esse último autor das denúncias de corrupção nos contratos médicos da Saúde no governo Ivan Cassaro, estimados em mais de R$ 32 milhões.

“Espero seriedade, isenção e apuração rigorosa. Também espero uma manifestação oficial do governo Ivan Cassaro sobre os escândalos na Saúde. Esse caso veio a público há mais de um mês e até agora impera o mais absoluto silêncio por parte do Poder Público Municipal”, conclui. Alguns vereadores alvos da megaoperação de ontem emitiram notas de esclarecimento, caso de Luizinho Andretto: “Toda essa situação não fará com que eu pare meu trabalho em defesa da população, muito pelo contrário, dará mais força no trabalho que me confiaram”, afirmou, encerrando com a expectativa de que “quem errou, que pague”.

Viaturas da PM, do Baep e carros descaracterizados do MP e Gaeco deram o ‘fecha’ na Prefeitura e Câmara de jaú (FOTO: Reprodução HoraH)

HORAH – Informação com responsabilidade