Sem decisão: juízes pedem vista de recurso sobre inelegibilidade do prefeito de Jaú

Dr. Bissoli (último, embaixo), enquanto fazia sustentação oral na audiência online do TRE/SP: caso ainda sem julgamento final (FOTO: Reprodução HoraH)

Processo é das eleições de 2020; revelações feitas na audiência no TRE/SP surpreenderam ao citar coação de testemunhas, troca de favores com uso da máquina pública e saques na boca do caixa de valores altíssimos às vésperas da eleição

Os juízes Cláudio Langroiva e Diogo Rais pediram vista de recurso do processo que apura abuso do poder econômico, gastos ilícitos e outras irregularidades na campanha de 2020 do então candidato a prefeito Ivan Cassaro (PSD), adiando uma vez mais o julgamento do caso, agora em segunda instância, no TRE-Tribunal Regional Eleitoral. Como o mandato referente àquela eleição já acabou, o que perdura agora é a inelegibilidade de Ivan, reeleito em 2024 para novo mandato como prefeito de Jaú.

Os pedidos de vista surpreenderam porque indicam possibilidade de divergência dos juízes sobre a posição do relator do caso, desembargador Encinas Manfré, cujo relatório é pela rejeição do recurso e consequente arquivamento do processo por falta de comprovação de materialidade das acusações. O ex-candidato a prefeito e hoje vereador Dr. Paulo de Tarso e o partido Podemos são autores da ação. Diante dos pedidos de vista, o presidente do TRE, desembargador Gilmar Fernandes, suspendeu os trabalhos “até nova data”.

O que mais chamou a atenção na audiência dessa semana no TRE foram as revelações feitas pelo advogado de acusação Dr. Alexandre Bissoli, de que estão nos autos, “com prova e firma reconhecida”, notícia de que “duas testemunhas não compareceram na audiência (de primeira instância, em Jaú) porque o prefeito mandou o chefe de gabinete dele procura-las para oferecer cargo na prefeitura ou ameaça-las, caso fossem depor no processo”. E que a Justiça Eleitoral nada fez sobre essa questão até hoje.

Dr. Alexandre Bissoli, especialista em direito eleitoral (FOTO: Arquivo Pessoal)

Dr. Bissoli ainda falou de uma terceira testemunha, cujos áudios nas redes sociais diziam que: “Se eu disser tudo o que sei da eleição, o prefeito cairá”, mas que chamada para depor falou que se referia a outra pessoa; coincidentemente, “dois meses após a audiência, a testemunha foi agraciada com a contratação de sua empresa de transporte pela prefeitura por R$ 113 mil por mês”. E, por fim, que após 20 petições feitas pela acusação e 437 dias de espera, finalmente houve a quebra dos sigilos bancário e fiscal do prefeito e de suas empresas, revelando que no ano da eleição foram efetuados no 1.o semestre “saques da ordem de R$ 70 mil na boca do caixa e, no 2.o semestre (inclusive mais próximo da data da eleição), de R$ 813 mil”.

“O processo foi julgado improcedente, sem análise pormenorizada das provas”, disse o advogado, chegando ao Tribunal com apenas uma possibilidade: o de julgamento da inelegibilidade do prefeito, visto que as outras penalizações previstas perderam objeto com o fim do mandato. Para Dr. Bissoli, está evidente o uso de caixa 2 nas eleições daquele ano, sem falar nas demais questões ainda a serem apuradas, sobre coação de testemunhas e troca de favores com uso da máquina pública.

Diante de todo o rumor deste caso na reta final, o prefeito Ivan Cassaro trocou a defesa e contratou dessa feita o ex-juiz do TRE/SP, Paulo Hamilton Siqueira Jr, que agora atua como advogado eleitoral. Um sinal inequívoco de que o prefeito de Jaú tem receito do resultado final deste julgamento. A nova data para retomada da audiência no Tribunal após os dois pedidos de vista feitos nessa semana ainda não foi definida.

Prefeito Ivan Cassaro já está no 2.o mandato, mas processo das eleições de 2020 ainda não está encerrado e pode levar à inelegibilidade dele (FOTO: Facebook/Reprodução)

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